O Maurílio era
dureza. Antes de ser meu aluno, eu já via como ele era pelo pátio e
corredores da escola. Insubordinado, insubmisso, insubjugável.
Nossa, pra um professor libertário, estas parecem características
ótimas. O problema é que ele não quer saber de qualquer coisa que
você tenha a dizer. E você e ele estão na escola. Nesta escola!
Pública, estatal, capitalista, ocidental, fordista, seriada ou
ciclada, não importa. O que sabemos sobre “escola”, há
gerações, é que um deve falar e o outro deve ouvir. O primeiro é
o professor e o segundo é o aluno. Todos sabemos disso. Inclusive o
Maurílio. Que já tem, desde a mais tenra idade, o estigma de “aluno
problema”, já se subjetivou dessa forma e assim se identifica,
assim se diferencia dos demais. Não importa se você é um professor
“aberto”, progressista ou revolucionário, você é o cara que
está lá para subjugá-lo e ele é o cara que está lá para
resistir, que não se dobra. Que tem uma reputação a zelar, a de
não obedecer a ninguém, muito menos a um professor.
O seu dever, como
professor, é pedir que ele lhe dê alguma atenção e realize a
tarefa proposta. Se ele vai te dar ouvidos, é outra história. Você
pede para ele desligar o celular e é como se você falasse com a
parede. Ele importuna uma colega (as meninas são sempre o alvo
principal, né?) e ela exige que você exerça sua autoridade de
professor e faça com que ele pare. Mas você não tem essa
autoridade. Ao menos a autoridade de fazer um aluno “parar”.
“Que que é, ô
caganêra”! “Eu vô te matá, tu vai vê”!
Essa era a
resposta que eu ouvia ao tentar chamar a atenção do Maurílio.
Bom, mas você
faz o quê? Segue adiante, segue tentando. Uma vez descobri que ele,
junto com o Wendell (falarei mais desse aluno, mas já falei um
pouco, clique aqui), se interessavam muito por questões de
astronomia, planetas, extraterrestres, etc. Preparei atividades
apenas para eles, separadamente do resto da turma. Mas, claro, como
você precisa atender todo mundo, acaba não dando a devida atenção
para eles. E então, essa paixão pelas estrelas não durou muito,
duas aulas, digamos. Porque é justamente esse o problema deles:
falta de alguém para sentar ao lado, conversar, incentivar,
trabalhar junto. E os governos com seu pensamento econômico, com
suas políticas de corte de gastos e enxugamento da máquina pública,
faz o contrário. Isola os alunos. Os professores têm turmas cada
vez mais cheias e aquele atendimento individualizado, que seria o
certo para os dias de hoje, fica mais difícil de ser feito.
Quem quer
resolver o problema?
Nenhum comentário:
Postar um comentário