quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

QUANTO MAIS PIOR



O Maurílio era dureza. Antes de ser meu aluno, eu já via como ele era pelo pátio e corredores da escola. Insubordinado, insubmisso, insubjugável. Nossa, pra um professor libertário, estas parecem características ótimas. O problema é que ele não quer saber de qualquer coisa que você tenha a dizer. E você e ele estão na escola. Nesta escola! Pública, estatal, capitalista, ocidental, fordista, seriada ou ciclada, não importa. O que sabemos sobre “escola”, há gerações, é que um deve falar e o outro deve ouvir. O primeiro é o professor e o segundo é o aluno. Todos sabemos disso. Inclusive o Maurílio. Que já tem, desde a mais tenra idade, o estigma de “aluno problema”, já se subjetivou dessa forma e assim se identifica, assim se diferencia dos demais. Não importa se você é um professor “aberto”, progressista ou revolucionário, você é o cara que está lá para subjugá-lo e ele é o cara que está lá para resistir, que não se dobra. Que tem uma reputação a zelar, a de não obedecer a ninguém, muito menos a um professor.
O seu dever, como professor, é pedir que ele lhe dê alguma atenção e realize a tarefa proposta. Se ele vai te dar ouvidos, é outra história. Você pede para ele desligar o celular e é como se você falasse com a parede. Ele importuna uma colega (as meninas são sempre o alvo principal, né?) e ela exige que você exerça sua autoridade de professor e faça com que ele pare. Mas você não tem essa autoridade. Ao menos a autoridade de fazer um aluno “parar”.
“Que que é, ô caganêra”! “Eu vô te matá, tu vai vê”!
Essa era a resposta que eu ouvia ao tentar chamar a atenção do Maurílio.
Bom, mas você faz o quê? Segue adiante, segue tentando. Uma vez descobri que ele, junto com o Wendell (falarei mais desse aluno, mas já falei um pouco, clique aqui), se interessavam muito por questões de astronomia, planetas, extraterrestres, etc. Preparei atividades apenas para eles, separadamente do resto da turma. Mas, claro, como você precisa atender todo mundo, acaba não dando a devida atenção para eles. E então, essa paixão pelas estrelas não durou muito, duas aulas, digamos. Porque é justamente esse o problema deles: falta de alguém para sentar ao lado, conversar, incentivar, trabalhar junto. E os governos com seu pensamento econômico, com suas políticas de corte de gastos e enxugamento da máquina pública, faz o contrário. Isola os alunos. Os professores têm turmas cada vez mais cheias e aquele atendimento individualizado, que seria o certo para os dias de hoje, fica mais difícil de ser feito.

Quem quer resolver o problema?

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